Algo
sobre o Belo
Por
Alberto Buela
Três
diletos amigos meus, pensadores e dos bons, o espanhol Javier Ruiz Portella,
diretor do periódico El Manifesto; o português Duarte Branquihno,
diretor de O Diabo e o francês Alain de Benoist, diretor das revistas Krisis
y Élements, se reuniram em Paris na realização de um colóquio para falar
"contra a feiura e pela beleza."
Que
extraordinário! Que fora do comum! Coisas como esta preenchem de entusiasmo e
alimentam o espírito. Nos afastam do derrotismo natural a que nos leva a nossa
sociedade de consumo e nos insuflam forças para seguir nesta luta desigual
contra a vulgaridade, a chatice, o profano, a estupidez, a feiura, o mau gosto
e as mil agressões que sofremos diariamente tanto da mídia como dos cartazes e
das janelas da rua.
Há
vinte e cinco século e atribuído a Platão, se vem repetindo na tradição
filosófica do Ocidente que a beleza é o esplendor da verdade (splendor veri).
Esta frase contém dois termos: esplendor e verdade. O esplendor não é um
resplendor difuso, mas um fulgor de luz que emana da coisa bela e a verdade é o
que brilha. A obra de arte é então aquela através da qual brilha a verdade. E
para os gregos a verdade αλετεια
(aleteia) que significa desocultação, revela, tirar o véu que cobre a essência
das coisas. E é este des-ocultar que produz a obra de arte que faz Heidegger
afirmar: "Na obra de arte foi posto em operação a verdade do ente. A obra
de arte abre a seu modo o ser do ente".
Porém,
como é, como se produz este enraizamento da obra de arte com a verdade? Esta é
a questão do milhão, e aqui, cada professor com seu livreto.
Na
nossa opinião, a obra de arte expressa a verdade de forma simbólica, isto quer
dizer que remete a algo que está além do que aparenta. A obra de arte
re-presenta algo, apresenta de outra maneira as coisas como se dão ao olhar
vulgar, a transcende. Inclusive a arte não-figurativa, não-representativa,
apesar da intenção de seus representantes também representa. Ao menos tenta ser
a representação da não representação. E dado que a arte como todo símbolo é um
signo arbitrário, (cada pintor pinta o mesmo porém distinto) que se distingue
do sinal que é um signo natural, ex. a nuvem é sinal de chuva. E como a
captação do símbolo só é possível por analogia, de igual modo, o acesso à obra
de arte se realiza pelo mesmo meio, de modo indireto.
Devido
a seu caráter simbólico é que a obra de arte vincula o singular com o
universal, o contigente com o necessário. É na conhecida definição de Hegel
"expressão sensível da ideia", apresenta no sensível o
suprassensível.
"Então,
na obra de arte não se trata da reprodução dos entes singulares existentes, mas
ao contrário da representação da essência geral das coisas" nos diz,
por sua vez, Heidegger.
E na
tarefa de compreender a obra de arte como símbolo, em sua decodificação
intervém a hermenêutica, a ciência da interpretação, onde se destaca o agudo
filósofo mexicano Mauricio Beuchot: "Se a hermenêutica tem tido o
trabalho de aproximar e quase combinar a compreensão e a explicação aplicada às
obras de arte, faz com que elas nos deem
uma compreensão (um sentido), mas, também, uma explicação (uma referência).
Põe-se diante de nosso intelecto algo que dá um sentido e uma referência sobre
certos aspectos humanos que são universais".
Assim
quando ante a obra de arte, belo pelos sentidos, sobretudo a visão e a audição,
poderemos gozarmos compreendê-la sem perder a referência, chegamos à
representação plena, ao unir em um só ato compreensão e explicação.
Existe
além do acesso intelectual à obra de arte, uma aproximação emocional que se
localiza no observador. O esplendor, se aprecia sobretudo nas grandes obras de
arte, que se traduzem em comoção do observador. A obra de arte o leva para fora
da trivialidade, da cotidianidade, nos transporta a outro mundo, mais
transcendente ou mais profundo. Isto Aristóteles chamou καθαρσις, catharsis. Claro que ele o deu
uma conotação moral como expurgo das paixões. Porém, o fato é que uma obra de
arte se valora por sua maior ou menor comoção. Pensemos nos efeitos da Antígona
de Sófocles que morre em desafio ao poder político por ser fiel à lei divina e
à piedade fraterna. Ou como nos comove uma sinfonia, um quadro, uma escultura,
um filme, uma dança bem dançada e as centenas de expressões estéticas quando
estão acabadas, quando são perfeitas.
A
própria ideia de mundo se define primeiramente pelo belo, pois tanto mundus
como cosmos significam isso. Todavia, hoje falamos de cosmética ou arte
de fazer belas as mulheres ou do imundo como o sujo e o feio.
E
quando o mundo nos mostra sua beleza? O faz no grande belo, que caracterizamos
como o sublime: um pôr-do-sol, um pico nevado, uma cachoeira, o mar "como
um vasto cristal prateado", o pampa, "essa vertigem horizontal",
da qual nos falava Drieu la Rochelle.
Porém
Platão não só se limitava à vinculação transcendental, isto é, além de toda
categoria entre a beleza e a verdade, mas que também incorporava o bom com sua
ideia de kalokagathia, isto é, o somatório de kalós (o belo) e agathós
(o bom). E assim o expressa n'O Filebo: "a potência do bem refugia-se na
natureza do belo".
Tudo
isso nos leva aos abismos mais insondáveis da metafísica, pois caímos no
tratamento dos transcendentais do ente ou os horizontes do ser de que nos fala
hoje, Engen Fink, grande colaborador de Heidegger. Assim aos quatro horizontes
clássicos do ser que dominam a filosofia antiga, medieval, moderna e, em alguns
casos contemporânea, on, ens, ente - en, unum, um - agathón-bonum-bom e
alethés-verum-verdadeiro, devemos agregar em nossos tempos o kalós-pulchrum-belo.
A
ideia é que chegado o ser à plenitude de sua realização, tanto nos entes como
nas ações, todos eles se convertem entre si.
Bom, porém, isto já é tema para um tratado.
Alberto Buela |
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Traduzido por: Breno Costa
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Por Cristo, pela Pátria herdada de nossos maiores, pela Família: Anauê!
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