sábado, 19 de dezembro de 2015

Paradoxos da Esquerda e da Direita - Alberto Buela


   Todo mundo sabe que a esquerda e a direita são termos relativos como pai e filho ou alto e baixo, pois são conceitos que dependem uns dos outros.
     Sabe-se, ademais, que as ideias políticas da direita e da esquerda nascem de como estavam localizados os parlamentares na época da Revolução Francesa e ainda mais conhecida é a opinião do filósofo Ortega y Gasset em seu livro A Rebelião das Massas onde afirma que: ''Ser de esquerda é como ser de direita, uma das infinitas maneiras que o homem pode escolher para ser um imbecil: ambas, com efeito, são formas de hemiplegia moral."
     Porém o que poucos sabem é o paradoxo que há depois da segunda guerra mundial entre os conceitos de esquerda e de direita.
     Assim hoje a esquerda aparece ou é apresentada como progressista, popular, democrática e avançada. Inclusive se fala em uma esquerda caviar que é a cômoda e agradável vida de todos aqueles que falando do povo e de suas virtudes, vivem como bacanas. Isso se dá sobretudo nos governantes e funcionários da esquerda progressista e social-democrata dos governos ocidentais, desde Lula a Zapatero e desde Kirchner a Rajoy.
     Numa palavra, ser de esquerda é estar no topo de uma onda que dá a comodidade nas sociedades de consumo e a fama outorgada por todos os meios de comunicação de massa que estão a serviço desses ideais. 
     Isto é o que denominamos "a grande simulação" ou o que denomina o filósofo italiano Máximo Cacciari, "a paz aparente", onde os governos não resolvem os conflitos, mas só os administram.
     A direita, por sua vez, é o diabólico, o demonizado. São os trogloditas, os satisfeitos com o sistema.Nunca podem ser o povo, pelo contrário, são populistas os que sustentam os valores tradicionais dos povos. Nenhum candidato no Ocidente se diz de direita porque é politicamente incorreto. O sistema mundial dos meios de comunicação, que são os verdadeiros produtores do sentido do que acontece e se sucede no mundo, cairia em cima e o faria em pedaços.
     Contudo, aqui aparece o paradoxo que queremos falar, direita para os gregos vinha de dexiós que significa habilidade, sorte e solidariedade e skaiós significa torpe, rústico, perverso e desagradável. 
     Aqui, na época dos romanos, a dexter seguiu sendo o hábil, portanto, a destreza e sua derivação, o directus que é o correto; enquanto que a siniestra é o temível, o obsoleto, o inútil. 
     Mais próximo de nosso tempo, Dante Alighieri na Divina Comédia faz o poeta Virgílio dobrar sempre à esquerda para chegar à sede de Satanás. E, já na entrada da modernidade, Francisco de Quevedo (1580-1945) afirma que: se você vai fazer negócios e vê um canhoto é um mau presságio, como se tropeçasse em um corvo ou em uma coruja
     Como vemos, o paradoxo permanece à vista. Durante dois mil anos, pelo menos, pensou-se uma coisa sobre a esquerda e a direita e fazem duzentos anos que começou-se a pensar outra, totalmente diferente. 
     Assim são as coisas neste mundo. Talvez seja por isso que devemos lidar com assuntos mais importantes como sugere o velho verso de menino que nos ensinavam:
A Ciência mais completa
é a que o homem em graça acabou.
Pois no fim da dia, 
aquele que se salva, sabe, 
e o que não, não sabe de nada.



Texto por Alberto Buela
Tradução por Breno Costa

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

A Lição de Farias Brito, por Jackson De Figueiredo

A Lição de Farias Brito, por Jackson De Figueiredo


Já tendo tratado de Farias Brito aqui, torno novamente a mencioná-lo, ele que é um desses vultos nacionais, responsável pela ronda da pátria, como dizia Gerardo Mello Mourão.

Agora apresento a sua Lição, segundo o grande patrício brasileiro de espírito eminentemente revolucionário e cristão, o ilustre Jackson De Figueiredo. 


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FAZ amanhã cinco anos que morreu Farias Brito, o homem á sombra de cujo sofrimento e imensa resignação fortaleceu-se a minha fé no mundo do espírito, e de quem, no entanto, só me distanciei, até hoje, para entrar definitivamente nos umbrais da Igreja, e ajoelhar-me ante o altar d'Aquele que é a própria Sabedoria, a Verdade mesma.

Será por isto que, mais consciente da minha própria pequenez, cada vez amo e venero mais a memória de quem foi, sem o saber mesmo, uma alta expressão do espírito cristão —
gravidade, doçura, profundeza — desse espírito que modelou as nobres raças que são as senhoras do mundo, e jamais se deixará vencer, e jamais consentirá que se apague o seu brilho da fonte augusta dos povos que redimiu.

A saudade com que escrevo estas linhas, não me empresta tintas com que disfarce o que foi erro em sua vida de pensador. Nem quero mesmo falar dos seus últimos tristes, mas abençoados dias, em que viu fazer-se nova luz em seu espírito, e teve a nítida, se bem que rápida visão, logo interrompida pela morte, de que só do alto da Cruz jorra a divina claridade, que ilumina as consciências e leva paz aos corações... Não. Não preciso lançar mão desses dados de sua tão melancólica quão edificante história, do tempo em que, tão próxima já, eram a morte e, com a morte, a vida eterna, as suas duas uicas, exclusivas preocupações.

Também durante os longos anos de seu duro aprendizado não fora "Farias Brito, neste recanto do mundo, que é o Brasil, do ponto de vista intelectual, senão um batalhador de ânimo cristão, servidor da Igreja, ignorando, ele próprio, entretanto, o que havia de mais alto e mais sagrado em sua missão.

Foram os seus primeiros livros, em verdade, o primeiro protesto da consciência nacional contra o fetichismo positivista, arvorado em doutrina oficial de uma sociedade que ameaçava apodrecer sobre um chão enodoado de ridículo e de sangue.

E, de boa fé, não há negar que, á sua decisão em desprezar todo respeito humano, e lançar-se na elaboração de um sistema francamente espiritualista, se deve este movimento de recristianização da nossa intelectualidade, tão visível nas novas gerações, apesar do ateísmo das escolas, e por mais que o queiram desconhecer os cegos de um ou de dois olhos, sobreviventes do reles diletantismo que toda a gloria do pensamento das gerações amadurecidas ao sol de 9...

Esta é a maior glória de Farias Brito, glória que só lhe poderão negar zoilos e cabotinos, incapazes de medir forças com obra tão formidável como a sua: o ter sido sempre, ora como crítico, ora esforçando-se por elaborar uma doutrina nova, e sem mesmo ter clara noção disto, uma força de consciência a serviço da natural religiosidade de nosso povo, um interprete das nossas crenças, como lhe chamou Xavier Marques.

Farias Brito está no rol daqueles racionalistas de que falava D. Benoit com simpatia e enternecimento... "qu'on est convenu de designer sous le nom de "spiritualistes"', que ne tient pas les consequences de leurs príncipes. ..", isto é, que, vítimas somente do individualismo, que se fez o que a Igreja chama de erro invencível, não tem a coragem cínica de ser, na parte prática das suas doutrinas, consequentes com o terriel princípio gerador de todas elas: o meu eu é tudo.. . e tudo o mais é sombra do meu eu.. .

Eis por que ele foi o nosso primeiro grande reacionário contra o ateísmo inferior que, nos domínios mesmo da nossa vida social e política, se implantara e tudo lentamente apodrecia, caracteres e inteligencias, leis e costumes. Ele foi quem primeiro compreendeu, entre nós, o que Georges Fonsegrive viria a dar depois á própria França como resumo das doutrinas de um dos seus grandes pensadores modernos, E. Boutroux:

"Não existe doutrina mais debilitante que aquela que nos afirma que a nossa vida nada acrescenta ás vidas do passado, e que o mundo gira invariavelmente num círculo eterno, como a serpente que morde a própria cauda. Ora, o mundo da realidade é o mundo da história (e não o da ideologia determinista), onde tudo é novo, incessantemente; é o mundo onde reina a liberdade!"

Eu poderia citar palavras quase idênticas daquele pobre grande brasileiro, que não teve, em vida, maior amparo que o que lhe dava a solidão. . .

E tanto foi assim um reacionário contra a desordem e a anarquia com que o cientificismo de baixa estirpe tanto diminuiu a consciência brasileira que, ainda o conselheiro Ruy Barbosa nem sonhava que poderia assombrar-se um dia com o fantasma da Revolução, e já, incerto, é bem verdade, do que aceitar e indicar como meio de resolver a crise moral da nossa coletividade, apontava Farias Brito como causa mais próxima do nosso mal, assim como do mal do mundo inteiro, a falta de fé religiosa, o monstruoso materialismo que falseia todas as leis, no que elas pretendem ter de humanitárias e de justas, dado que, logicamente, só um princípio regerá os destinos de uma sociedade em que o materialismo predomine: o interesse. “E 
— dizia ele nesta confusão assombrosa, se o interesse torna-se o único critério das ações, e a corrupção, feita avalanche, tudo envolve em suas manobras insaciáveis, o que unicamente importa para cada um, é vencer. Vença, pois, quem puder é o conselho da experiencia neste verdadeiro naufrágio da humanidade.”

Protestou a sua alma, até o fim, contra semelhante monstruosidade e teve, naqueles temerosos dias da guerra, como que a confirmação de que já o mal era irremediável...


Morreu talvez com essa tristeza enorme no coração, se bem que também certo de que alguma coisa de imorredouro e de invencível acena a todos os homens dos braços da Cruz.


E nesta certeza se abrigava, de fato, em sua alma, a verdade que não morre.


A reação contra o individualismo revolucionário já se faz ver, por toda a parte, com mais força de que fora possível imaginar, após o longo e tenebroso período da conflagração mundial.


Este, aquele povo, menos experiente e mais facilmente explorável, afundar-se-á, debater-se-á, morrerá talvez no mar sangrento da Revolução. Mas a humanidade há de salvar-se, por fim, porque as portas do Inferno não prevalecerão contra a Igreja, e esta será sempre a eterna acolhedora, em cujo seio depôs Deus o segredo da ordem e da justiça.

Jackson De Figueiredo - 15/01/1922


[FIGUEIREDO, Jackson De. A Reação do Bom Senso. Ed: Anuário do Brasil, Rio de Janeiro, 1923; Pág's 101-105]





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